
O QUE É DEPRESSÃO?
É uma alteração geral do funcionamento do psiquismo (o conjunto dos processos mentais conscientes ou inconscientes de um indivíduo) e do corpo que atinge o afeto e o humor, produzindo uma mudança na maneira como o indivíduo valoriza a sua existência e o mundo em que vive.
DEPRESSÃO X OUTROS SENTIMENTOS
Há alguns anos, depressão era um termo quase exclusivamente médico. Hoje, usa-se a palavra depressão para designar qualquer coisa que signifique baixo astral. Quase não usamos mais expressões como: "Estou deprimido", " na fossa", " de bode", entre outras. Dizemos logo: "Estou deprimido". Mas são coisas muito diferentes. Variações de humor, ânimo e disposição fazem parte de uma vida saudável. A depressão não é uma variação passageira, é um estado que se instala e aprisiona o indivíduo num sentimento de que sua vida não tem sentido.
DEPRESSÃO: O GRANDE PROBLEMA MUNDIAL
Vivemos numa cultura que valoriza a aparência de sucesso, de saúde perfeita, de beleza e juventude. Ter conflitos, ficar triste ou pensar sobre o sentido da existência ficou fora de moda. Somos bombardeados com a publicidade que nos repete que só há dois tipos de pessoas: winners e losers (vencedores e derrotados). Os que sustentam a imagem de sucesso e o resto, os fracassados. Não somos proibidos de quase nada, e somos incitados a poder quase tudo. A depressão quase endêmica (pertencente ou relativa a endemia (doença que existe constantemente em determinado lugar e ataca número maior ou menor de indivíduos)) que vemos hoje é a expressão desse quadro. A verdade é que nos vemos cada vez mais inseguros e solitários numa sociedade em que o individualismo acentuado nos joga numa competição constante, diária, desenfreada. A incerteza, a falta de horizontes coletivos, a fragmentação da vida cotidiana, que caracterizam nossa cultura atual, nos fazem sentir que a vida individual vale muito pouco, que nossa importância no mundo é quase nenhuma. Isso é um pano de fundo cultural propício ao aparecimento da depressão. Para mudar esse quadro, é preciso muito mais que remédios e psicoterapia. É preciso mudar a sociedade, o mundo e o sentido da vida.
OS JOVENS NA MIRA DO MODELO CULTURAL QUE PODE LEVAR À DEPRESSÃO

A juventude é o alvo da cultura do sucesso e da aparência num duplo sentido. Em primeiro lugar, é na adolescência e juventude que os indivíduos organizam seu horizonte existencial, definem objetivos, ordenam os valores que regularão sua vida. Atualmente, faixas cada vez mais jovens são alvo dessa estratégia. Basta ver a quantidade de produtos e serviços dirigidos a crianças muito pequenas. Na cultura do individualismo, somos todos responsáveis pelo nosso destino e é na adolescência que ele começa a ser montado. Por isso, a juventude é certamente alvo preferencial da publicidade e dos processos sociais de formação de consumidores (no lugar de cidadãos).
Essa cultura se dirige a um "jovem ideal". A adolescência/juventude deixou de ser apenas um momento da vida de cada um, para se tornar um ideal a ser perseguido a qualquer tempo. O "jovem" encarna os valores que mais prezamos hoje: independência, entusiasmo, alegria de viver, disposição para enfrentar dificuldades. Ser jovem virou uma obrigação, do mesmo modo que ser "velho" virou quase uma categoria de acusação. A cultura da beleza é também a cultura da juventude. Quanto mais tempo permanecemos jovens, ou damos a impressão de permanecer, melhor para nós. A medicina cosmética, a indústria de rejuvenescimento, as práticas dietéticas, o culto ao corpo, a moda, os esportes radicais, enfim toda uma indústria, uma economia e um mercado da experiência jovem tem crescido nos últimos anos. E deve crescer mais, à medida que as biotecnologias começarem a permitir intervenções de caráter preventivo ou genético na tentativa de adiar (ou, quem sabe, exorcizar) o fantasma da velhice.
COMO SE OPOR A ESSA CULTURA DE VENCEDORES E DERROTADOS?

Praticando, incentivando e defendendo todas as formas de solidariedade. Tanto na vida pública quanto na vida privada é possível encontrar maneiras de estimular ação em comum em vez de atitudes individualistas. O cuidado com os outros e o ambiente, em vez da busca predatória pelo sucesso e a acumulação de bens; a construção de laços fraternos, no lugar de espaços de competição desenfreada; a ampliação de espaços de produção e difusão de cultura, e assim por diante. Pode-se dizer que na busca da solidariedade como valor fundamental na convivência dos indivíduos constrói-se uma ética da amizade. Na cultura predominante hoje, o outro é visto e vivido basicamente como rival, quando não inimigo, na disputa por um lugar de sucesso, ou como alguém que não desperta em mim nenhum sentimento de identificação ( seu sofrimento não me perturba, sua felicidade não me diz respeito). A idéia de solidariedade como valor fundamental na política e nas relações pessoais é uma referência que pode articular formas muito diferentes de ação, diversas perspectivas políticas, opções culturais ou religiosas. Pode ser uma bandeira de todos - ao menos de todos os que acharem que de fato um outro mundo é possível e que vale a pena construí-lo.
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