terça-feira, 27 de janeiro de 2015

VERGONHA: Delegado usa o próprio computador para registrar ocorrências

Delegado lamenta a falta de estrutura física e humana 
para trabalhar e atender ocorrências policiais.


Em São Gonçalo do Amarante a falta de infraestrutura é tamanha que a Delegacia de Polícia Civil não tem sequer internet. Apenas oito policiais atendem uma população de 120 mil habitantes.
Cercado de pilhas de processos, sem infraestrutura adequada e com um corpo de funcionários bem inferior à demanda, o delegado de Polícia Civil de São Gonçalo do Amarante, recebeu a equipe de reportagem do FalaRN rapidamente. A pressa se justifica. Ele é sozinho para atender inúmeras ocorrências policiais. Na sala de espera, dezenas de cidadãos esperam sua vez de ser atendidos.  As queixas são variadas, mas três tipos de crimes predominam na cidade: homicídios, tráfico de drogas e violência contra à mulher.
Há menos de dois anos no comando da Delegacia, Márcio Delgado comenta que a principal dificuldade que enfrenta é a falta de estrutura humana, “acima de estrutura logística, de veículos, de armas. Os próprios policiais, sabendo que essa delegacia é uma das que tem maiores demandas de serviço, não querem vir pra cá”. Poucos se habilitam a enfrentar o ritmo estressante de trabalho, causado pelo grande numero de ocorrências.  Outros são obrigados a vir em razão de alguma punição sofrida em âmbito administrativo.
São oito policiais para atender uma população de 120 mil habitantes. Mas já houve época em que Delgado Varandas tinha apenas três policiais civis à sua disposição. “Como é que você vai trabalhar com oito policiais? O ideal seria, pelo menos, o dobro para ter equipes de rua, para atender mais a população, pra fazer mais procedimentos, para atender à demanda passada porque se recebe uma carga quando se vem para este tipo de delegacia”.
Em 2013, quando foi lotado em São Gonçalo do Amarante, Delgado tinha a promessa de que, com a construção do aeroporto,  a unidade policial seria reestruturada com aumento de equipamentos e efetivo. “O aeroporto chegou e a delegacia não cresceu. Ao contrário: ela foi mais cobrada e as deficiências são as mesmas”.
A delegacia não tem, sequer, computador para o delegado trabalhar. Para conseguir dar agilidade aos processos, Márcio Delgado tirou dinheiro do próprio bolso e montou um computador. Só que o delegado não dispõe de internet na sala em que atende à população. “Porque a fiação do prédio  é muito antiga, não dá para fazer uma rede porque o prédio é muito antigo e muito precário”.
Delegado reclama da falta de estrutura e das péssimas condições de trabalho. (FalaRN.com)
Delegado reclama da falta de estrutura e das péssimas condições de trabalho. (FalaRN.com)
DROGAS - Elencado como um dos principais tipos de ocorrências criminais na cidade, o tráfico de drogas tem crescido em São Gonçalo, principalmente na periferia. Segundo o delegado, os novos bairros favorecem esse tipo de crime. “A periferia é a área que a população tem crescido muito e o poder público não tem chegado. Não tem escola, não tem saúde, não tem transporte”.
PERFIL DO TRÁFICO – Não existem grandes traficantes. O que existe é o chamado “tráfico pulverizado” que atinge as camadas sociais de baixo poder aquisitivo. A origem da droga que chega a São Gonçalo é principalmente a Zona Norte de Natal que “é outro celeiro que o poder público também não chegou e aumentou (tráfico) demasiadamente lá”.
AJUDA – O delegado destaca que a saída para a situação crítica enfrentada no município seria, além de uma ação integrada entre policiais civis e militares de São Gonçalo e da Zona Norte de Natal, aumentar o efetivo e a presença efetiva do poder público municipal nos locais mais críticos. A exemplo de alguns bairros de São Gonçalo que se fundem com a Zona Norte, como Parque das Rosas, Nova Petrópolis, que cresceram e o tráfico aumentou. “E o tráfico vai puxando  outros crimes: vai puxando acerto de contas, roubos… É a mola propulsora”.
“A periferia é a área que a população tem crescido muito e o poder público não tem chegado. Não tem escola, não tem saúde, não tem transporte”.
Márcio Delgado aponta que para combater a violência não basta haver a parte repressiva policial. Mais importante ainda é a parte social gerida e financiada pelo poder público.
RESOLUÇÃO  DE CRIMES –  A grande demanda de crimes tem sido um entrave quando o assunto é o encaminhamento das investigações. “Enquanto se investiga um crime, apura e bota na cadeia, já ocorreram dez outros. A gente vê um crescimento, mas não consegue acompanhar. Não porque a gente não quer. A polícia ainda é muito desestruturada em relação a criminalidade.
PERSPECTIVAS - Como Robinson Faria (PSD) elegeu a Segurança como uma de suas prioridades, a expectativa do delegado é que a nova gestão pública estadual traga melhorias para o setor. “No último governo, se a polícia era de má qualidade, ficou pior ainda. Ela chegou no fundo do poço”.
Enquanto aguarda o cumprimento das melhoras anunciadas, o delegado corre contra o tempo para solucionar os crimes, contando com um efetivo reduzido e uma delegacia em estado precário.
Caso siga o exemplo dos delegados anteriores, cujo tempo médio de permanência em São Gonçalo do Amarante foi de um ano e meio, Márcio Delgado, em breve, deve desmontar seu computador para atuar em outra delegacia do estado, preferencialmente com internet.
Prédio cedido pela prefeitura onde funciona a Delegacia de Polícia Civil de São Gonçalo do Amarante, RN. (FalaRN.com)
Prédio cedido pela prefeitura onde funciona a Delegacia de Polícia Civil de São Gonçalo do Amarante, RN. (FalaRN.com)
Fonte: falarn.com

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